O
Grupo de Pesquisa Relações entre Filosofia e Educação para as Sexualidades na
Contemporaneidade: a problemática da formação docente – Fesex – registrado no
CNPq e atuante no Mestrado Profissional em Educação do Departamento de Educação
da Universidade Federal de Lavras, manifesta repúdio a toda e qualquer forma de
discriminação e-ou violência de gênero, identidades e expressões de gênero e
sexualidades, orientações sexuais, raças, etnias, classes, níveis de instrução
e posicionamentos políticos, sociais, educacionais.
O
fato ocorrido com o estudante Pablo Gabriel Galiza Barbosa, graduando do 4º
período do curso de Química, no dia 04/05/2016, por volta das 13h na portaria
da Universidade, revela, para além de um desconhecimento das várias identidades
e diferenças que constituem o nome e o ambiente Universidade, uma violência de
identidade sexual e de gênero que precisa ser debatida por todos e todas nós da/na
comunidade acadêmica com vista a encaminhar ações para seu enfrentamento.
Pablo
foi abordado por um vigia na portaria da Ufla por estar usando uma saia como
componente de sua vestimenta. A abordagem ocorreu, inicialmente, respeitando
uma norma do Cuni sobre a política anti-trote da Ufla. O fato é que, ao falar com
o vigia que não se tratava de um trote, Pablo não foi ouvido e o vigia pediu
ajuda da polícia militar do campus e de mais um colega de trabalho. A partir
daí, foi pedido a Pablo que lesse o regimento anti-trote, pois, segundo a
reafirmação do vigia, a vestimenta se tratava de um trote. Pablo questionou o
porquê de ler o regimento, dizendo que não se tratava de um trote, mas de uma
vestimenta comum do seu guarda-roupas e o vigia disse que, se ele continuasse a
entrar no campus, seria barrado novamente, orientando-o que fosse para casa e
trocasse de roupa. Ao negar essa orientação, foi dito ao estudante que falasse
com a Pró-reitoria. Assim, Pablo dirigiu-se à Pró-reitoria e, chorando, não
encontrou a pessoa responsável. Foi, então, atendido pela psicóloga e, ao
tentar conversar com ela, foi interrompido pela entrada do vigia na sala da
psicóloga e pelas tentativas de justificativas vindas dele.
Dado
o ocorrido, organizou-se um movimento de apoio ao estudante que ocorreu no dia
seguinte, 05/05/2016, a partir das 11h, na tentativa de conseguir os nomes dos
vigias envolvidos no caso, visto que, ao realizar o boletim de ocorrência,
Pablo precisava dos nomes deles, os quais esconderam seus crachás de
identificação. O ato “Saiato” ocorrido na Universidade pretendia revelar os
nomes dos vigias envolvidos, para que constasse no boletim de ocorrência, bem
como receber um posicionamento da reitoria frente ao ocorrido.
Após
uma reunião com a reitoria da Ufla, foram acordadas estratégias a curto, médio
e longo prazo com o intuito de elucidar, prevenir e combater atitudes
discriminatórias dentro da Ufla. A saber: a realização de uma assembleia aberta
à comunidade universitária sobre as políticas de segurança do campus; criação
de um comitê de Direitos Humanos que tenha contato direto com o Cuni e com a
reitoria, no sentido de receber denúncias e encaminhar propostas e demandas da
comunidade acadêmica sobre a elucidação, combate e prevenção de atitudes
discriminatórias dentro do ambiente universitário; promoção e divulgação de
cursos e palestras para formação e informação de funcionários e funcionárias,
servidores e servidoras, professores e professoras, chefes de departamento,
coordenadores e coordenadoras de curso, bem como toda a comunidade acadêmica
sobre as temáticas que envolvem as várias discriminações das quais se tem/terão
notícia dentro da Universidade.
O
Fesex entende que, a partir do momento que o vigia não respeitou a fala de
Pablo e, em sequência, deu início a atitudes intimidadoras como a chamada de
policiais militares do campus, leitura de regimento interno, orientação para
troca da roupa usada e acompanhamento até a pró-reitoria com consecutivo
impedimento de conversa do estudante com a psicóloga, essa atitude configura-se
como uma atitude discriminatória e intimidatória. Pablo sofreu uma
discriminação de gênero e identidade sexual, fato que o expôs à comunidade
universitária e à mídia, além de gerar um sofrimento psicológico e emocional
não quantificável.
Como
um grupo de pesquisas que assume o compromisso de discutir as questões
relacionadas a gênero, sexualidades, diferenças, diversidades, bem como os
processos educativos e as formações docentes, comprometemo-nos com a elucidação,
o combate e a prevenção de toda e qualquer atitude discriminatória ocorrida
dentro e fora do campus universitário. Entendendo que as questões de gênero
perpassam todos os campos do saber, do ser e do estar no mundo, sabemos da
problemática envolvida e posicionamo-nos no sentido de que roupas não possuem
gênero ou sexo/sexualidade, além de não definirem os comportamentos das pessoas
e não serem, portanto, motivo para abordagem, intimidação e discriminação de
pessoas.
Não
concordamos com a criação de um cadastro para pessoas que se vestem de maneira
diferente, como proposto pelo reitor em um momento pré-reunião com a comunidade
discente, simplesmente por ser a diferença um caráter fundante da pluralidade
de pessoas, crenças, identidades, subjetividades, expressões, raças, etnias,
estilos, gostos, classes, dentre outras. Por sermos todos e todas diferentes,
construímos a necessidade de entendimento, respeito e diálogo dentro da
Universidade, para que essa possa orgulhar-se do povo que nela convive, experimenta,
vivencia e aprende diariamente. Assim, o grupo defende que, por serem
características fluidas, relacionais, culturais, históricas, políticas, sociais
e transitórias, as relações de gênero e sexualidades não podem ser definidas
por padronizações, categorizações e normatizações de vestimentas,
comportamentos e atitudes.
Por
fim, o Fesex ressalta e reafirma a necessidade e a importância da criação de
frentes e processos educativos com o intuito de compartilhar informações,
combater discriminações e elucidar toda a comunidade acadêmica do seu dever de
respeitar, bem como do seu direito de ser, estar, ir e vir. Pensamos nas
criações de possibilidades como uma das formas de avanço do conhecimento, da
melhoria da formação humana e do respeito às diferenças e às pluralidades
enquanto caráter fundamental para o exercício da democracia, para o real
significado da palavra Universidade e para o avanço e transformação de uma sociedade
atualmente baseada na cultura do desrespeito.
Lavras, 07 de maio de 2016.
Grupo de Pesquisa Relações entre Filosofia e
Educação para as Sexualidades na Contemporaneidade: a problemática da formação
docente – Fesex
Integrantes:
Pesquisadoras e Pesquisadores
Ø Carolina
Faria Alvarenga
Ø Vanderlei
Barbosa
Ø Cláudia
Maria Ribeiro
Ø Elizabete
Franco Cruz
Ø Fábio
Pinto Gonçalves dos Reis
Ø Kátia
Batista Martins
Ø Marlyson
Junio Alvarenga Pereira
Ø Luciene
Aparecida Silva
Ø Andresa
Helena de Lima
Ø Leandro
Veloso Silva
Ø Alessandro
Garcia Paulino
Ø Lívia
Monique de Castro Faria
Discentes
Ø Silmara
Aparecida dos Santos
Ø Ailton
Dias de Melo
Ø Daniele
Ribeiro de Faria
Ø Lays
Nogueira Perpétuo
Ø Jaciluz
Dias Fonseca
Ø Vinicius
Lucas de Carvalho
Ø Priscila
Natalícia Bernardo Oliveira
Ø Bruno
Martins de Castro
Ø Lucas
Alves Lima Barbosa
Ø Juliana
Graziella Martins Guimarães
Ø Renan
Donizetti Fonseca
Ø Tânia
Gonçalves Bueno da Silva
Ø Viviane
Gonçalves Silva
Ø Gislaine
de Fátima Ferreira da Silva
Ø Elisabete
Ciccone de Assis Costa
Ø Maria
de Fátima Ribeiro